sábado, 5 de dezembro de 2009

Análise: Crescimento populacional X Produção alimentícia

O contexto mundial em que estamos inseridos permeia a Era do avanço tecnológico, em uma verdadeira faceta do processo de Globalização. Concomitantemente, houve o processo de crescimento demográfico em ordem mundial, que passou a exigir a tomada de providências para viabilizar a organização social. Entretanto, alguns países ainda “engatinham” na busca pelo objetivo. Por isso, a fim de estudar esse processo pela qual o mundo contemporâneo sofre reflexos, foram postuladas as denominadas Teorias Demográficas. A Teoria Malthusiana, postulada por Thomas Malthus no século XVIII, a Neomalthusiana, criada após o término da Segunda Guerra Mundial, e a Reformista que, a partir de seus preceitos, contrapõe-se totalmente às anteriores, pregam distintas ideias quanto à relação do crescimento demográfico com a produção de alimentos. Malthus, com sua teoria, afirmou que a população mundial crescia em uma progressão geométrica (2,4,8,16...) enquanto a produção de alimentos em uma progressão aritmética (1,2,3,4,5...), ou seja, destacava o total desequilíbrio entre o crescimento populacional e a produção de alimentos, prevendo que, em dado momento, faltariam alimentos à população mundial. Sua teoria gerou uma série de questionamentos, estimulando a busca de soluções para compreender o então desequilíbrio que se instalava. Elaborada posteriormente, a Teoria Neomalthusina, como já revela o nome uma reformulação à teoria de Malthus, preconizava o advento do controle do crescimento populacional, principalmente, nos países subdesenvolvidos, para evitar um provável esgotamento dos recursos naturais da Terra. E a Teoria Reformista, que se contrapunha a essas teorias, afirmava que esse processo de desequilíbrio deve-se à exploração por parte dos países desenvolvidos imposta aos países subdesenvolvidos, o que inviabiliza uma distribuição igualitária de renda, sintetizando aquele famoso pensamento que reforça o cenário de desigualdade social existente: “Muitos com pouco e poucos com muito”. Assim, a teoria pregava uma reestruturação socioeconômica para suprir essa desigualdade, em que a redução do crescimento populacional seria uma conseqüência natural do processo. Ela tinha como base as ideias de Karl Marx, que criticava profundamente o modo de vida capitalista, e que via como solução a instalação do socialismo, com a extinção da propriedade privada para a implantação da coletivização, na busca por uma sociedade mais igualitária.
Em minha opinião, a questão do “desequilíbrio” existente é fruto do sistema em que estamos inseridos, em que, por exemplo, para adequar-se ao nível desejado, deve-se aumentar a produção com o trabalho árduo e polivalente objetivando o lucro imediato, e cuja distribuição de renda não é correta, tendo em vista o contexto de desigualdade abismal entre os países. Logo, por conseguinte, não há a distribuição de alimentos necessária em nível mundial, visto que a busca pelo capital soa como objetivo precípuo no sistema capitalista. Então, na busca por uma possível solução, deve–se promover um rearranjo político com o fito de amenizar essa situação desigual. E essa má distribuição de renda, que suscitou divergências às teorias Neo e Malthusiana, é a peça chave, ou melhor, é a grande questão a ser resolvida.
Conforme dados estatísticos comprovam, não há falta de alimentos no mundo, que, aliás, seriam suficientes para abastecer uma população mundial ainda maior do que as 6,6 bilhões atuais. Portanto, em sua teoria, Malthus equivocou-se quanto à afirmação da falta de alimentos para abastecer a crescente população mundial e, também, quando estabeleceu o índice de crescimento populacional, que não chegou a atingir a progressão utilizada por ele, como exemplo. As correntes ideológicas propagaram-se e ainda hoje promovem questionamentos acerca dessa distribuição desigual presente. Dentro desse contexto, inserem-se as ideias do ecologista José Lutzenberger, que acreditava que as pequenas propriedades rurais que efetivamente contribuíam para o aumento da produção, pois nessas há uma variedade de plantios, que são utilizados para erradicar a fome no mundo. Já nas grandes propriedades rurais (latifúndios), normalmente é promovida a monocultura, cujo investimento é no plantio de apenas um produto, como o exemplo das plantations, instaladas em nosso país desde o período colonial, com a monocultura da cana-de-açúcar. Atualmente, com o progresso do conhecimento técnico-científico e da engenharia genética, pode-se inclusive produzir os chamados alimentos transgênicos (OGMs), que geram divergências quanto a sua utilização, pois, ao mesmo tempo em que são mais resistentes aos microorganismos e aos pesticidas, podem acarretar malefícios como a intoxição alimentar, alergias e impactos ambientais. Além do que, se sabe que a justificativa pela falta de alimentos no mundo não é plausível, por isso essa alternativa não é muito utilizada.
Em suma, a discussão quanto aos preceitos de cada teoria devem permanecer, tendo em vista a presença de diferentes pontos-de-vista. Porém, penso que, muito mais do que uma questão meramente econômica, essa é uma questão de cunho social. Com o intuito de corroborar a redação, coloco a notícia de um *relatório feito pela ONU, que apresenta como dado a estimativa de que a população mundial atingirá o número de 9,2 bilhões de pessoas em 2050.

* notícia retirado do site UOL:

- http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u373836.shtml.

2 comentários:

Donarte N. dos Santos Jr. disse...

Excelente texto!
Mas mantenhamos os olhos abertos porque a própria ONU, vez ou outra (para não dizer sempre), esboça pensamentos malthusianos (risada!)
Abração do prof.,
Donarte.

Protesto disse...

Adorei!

A fome ainda é um grave problema que nos assola.

Precisamos de gente disposta a investigar as raízes desse mal e combatê-la.