segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Tempo

Atualmente, vivemos em uma sociedade onde não há uma tendência muito forte ao questionamento e à busca da origem de certos parâmetros utilizados freqüentemente em nosso dia-a-dia. Acostumamo-nos com eles, adotando o padrão mais prático possível de sua assimilação. Temos, latente no fundo de nossas mentes, a idéia de que sempre foi assim.

Tendo isso em mente, impressionamo-nos com a facilidade com que somos deixados sem resposta perante uma indagação relacionada a assuntos corriqueiros, tidos como “simples”. Perguntas como: o que é o tempo?

A observação de Santo Agostinho, importante filósofo cristão que viveu de 354 a 430, parece externar exatamente o que sentimos quando nos deparamos com essa questão: “Se ninguém me perguntar o que é tempo, eu sei o que é, mas, se desejar explicá-lo a quem me indaga, não sei.”

De fato, “o tempo” é uma questão recorrente em nossa civilização, abordada por filósofos desde a Antiguidade, um deles sendo Platão. “O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”, ele diz.

Uma das visões filosóficas acerca desse assunto é de que o tempo existe unicamente em nossa própria percepção do Mundo.

Para filósofos como Antifonte de Atenas, o tempo não é uma realidade, mas sim apenas um conceito ou medida. Parmênides de Eléia partilhava desta visão e ia além: para ele, não apenas o tempo era uma ilusão, como também o movimento e a mudança.

O tema do tempo como sendo ilusão é recorrente também no pensamento budista, assim como aceito por alguns filósofos modernos, como J. M. E. McTaggart, que, em 1908, publicou um célebre artigo intitulado “A Irrealidade do Tempo”.



Outros teóricos diriam que o tempo estaria fortemente ligado à produção, este surgindo como forma de organizar a mesma, aumentando sua eficácia. Esta seria a origem da famosa expressão “tempo é dinheiro”.


Mas não coube apenas ao campo da Filosofia ou da Sociologia a discussão acerca do assunto, que se alastrou, também, para o mundo da Física.

Segundo Isaac Newton, o tempo poderia ser considerado como sendo absoluto, fluindo igualmente aos olhos de qualquer observador. Portanto, toda a ciência envolvida na mecânica clássica é baseada na concepção newtoniana de tempo.






Sir Isaac Newton


E seria somente com Einstein, e sua Teoria da Relatividade, que ocorreriam profundas reinterpretações dos conceitos físicos associados ao tempo e ao espaço. Nela, Einstein prova que tempo e espaço são inseparáveis. Além disso, ao medir o espaço-tempo, necessita-se de um referencial, sendo o resultado, portanto, sempre relativo ao ponto de referência. Surge daí, então, o termo Relatividade.


Albert Einstein


Hoje em dia, define-se, para fins de convenção, o tempo como uma componente do sistema de medições, usada para sequenciar eventos, para comparar suas durações, os seus intervalos e para quantificar o movimento de objetos. E, como tempo é convencionado, também serão suas unidades.

A princípio, essas unidades relacionaram-se ao nascer e ao pôr do sol. A hora, originalmente definida pelos Egípcios, equivale a 1/12 do período entre o nascer e o pôr-do-sol, portanto, 1/24 de um dia completo (essa decisão baseia-se no sistema de numeração duodecimal). Então, em aproximadamente 24 horas (na realidade, 23 horas e 56 minutos), a Terra realiza a rotação completa em seu próprio eixo.

A partir daí, pode-se fragmentar e convencionar novas unidades de tempo e relacioná-las: um ano possui 12 meses; um mês possui 30 dias; um dia possui 24 horas; um minuto é 1/60 de hora; um segundo, adotado atualmente como unidade oficial de tempo pelo Sistema Internacional, é 1/60 de minuto, assim como 1/3600 de hora, que é 1/24 de dia, que, por sua vez, é 1/365 de ano, e assim por diante.


No entanto, como a Terra não é plana, e sim esférica (em formato de geóide, mais precisamente), a luz do sol não incide de forma homogênea em sua superfície. Em outras palavras, sempre haverá uma parte “clara” e uma parte “escura” no planeta. Com a rotação da Terra, a parte clara deixa de receber luz diretamente para dar lugar à parte escura.

Tendo isso em vista, sabendo que a hora é contada a partir do início de um dia, sendo o nascer e o pôr-do-sol de crucial importância para sua determinação, é fácil concluir que não há a homogeneidade no horário mundial. Basicamente, em cada “região” do planeta, em relação à incidência de raios solares, possuiria um horário diferente em um mesmo momento.


Assim, para, de certa forma, “regularizar” o “horário mundial”, foram criados os fusos horários, áreas que dividem a Terra em 24 partes (devido às 24 horas de um dia), cada uma com 15º (360º/24). Essa divisão fez-se por meio de linhas que receberam o nome de Meridianos, tendo como centro convencionado o Meridiano de Greenwich, ou Meridiano zero, traçado bem acima do Observatório Astronômico Real, um marco da época, no distrito de Greenwich, em Londres – nota-se, portanto, que a decisão foi inteiramente política, nada tendo a ver com o “centro do mundo”.

A partir do meridiano central, soma-se ou diminui-se uma hora a cada região. Ao leste, soma-se, a oeste, se diminui.

Entretanto, para evitar que se “cortasse” um estado ou uma cidade ao meio, deixando um horário para cada lado, foi formado o fuso horário civil ou político, e os fusos foram “adequados” às fronteiras.




















Um comentário:

Donarte N. dos Santos Jr. disse...

Estimado Thiago,

Muito bem! É muito interessante o fato de teres citado McTaggart. Estou lendo, por sugestão de meu orientador, o livro “A Commentary on Hegel’s Logic” dele. Retirei o livro da Biblioteca da PUC, mas está disponível, também na Internet. Veja: http://www.marxists.org/reference/archive/mctaggart/logic/index.htm

Com relação ao tratamento dado ao tempo por Newton, penso que ele foi superado pelo de Kant, que não admitia um espaço como o proposto por Newton: como sendo obra da mente divina – ou ainda, como sendo uma bomboniere que, retirados todos os bombons, permanece como um receptáculo. Assim, para Kant o tempo é um dado a priori. É anterior ao dado empírico (que acessível pelos sentidos). Em outras palavras, para Kant, o tempo (e também o espaço) é aquilo que organiza e permite a ocorrência dos diferentes fenômenos, mas que, justamente por isso, deve vir antes de todos os fenômenos... Assim, se retirarmos os eventos que ocorrem no mundo e sua relação de interdependência, desaparecem também o tempo e o espaço...

Claro! Nem todos são obrigados a concordar com isso – e, de fato, nem todos concordam... Este é um ponto de vista idealista, mas, a meu ver, perece ser o mais coerente...

Desse tipo de entendimento vêm as postulações, que são posteriores, do pensador que estou estudando: Hegel!

O que tiramos de conclusões deste estudo!? i) Que tempo é categoria do pensamento humano, que é bastante complexa... ii) que tempo, e, conseqüentemente, o horário de relógio, são criações nossas – humanas –, e, portanto, são instituídas segundo interesses mais ou menos interessados, e que levam em conta a política e a economia.

Muitas outras conclusões poderiam ser retiradas...

Abração do prof.,

Donarte.